sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Festival de la luz: algumas palavras.


            O Festival de la luz (Buenos Aires/AR) nasceu no ano de 1989 como um evento único, chamado “Encuentros Abiertos”. Entretanto, pelo sucesso que obteve, passou a ser um evento anual, e desde o início da década de 90 cumpre o seu papel de evento internacional, sendo o primeiro festival de fotografia da América-Latina.
            Hoje, os Encuentros Abiertos – Festival de la luz estão na sua XVII edição, e congregam uma rede de exposições, conferências e tantas outras atividades em que a produção fotográfica e a reflexão sobre esta prática trazem fotógrafos do mundo inteiro para a capital argentina.
           No intuito de promover uma troca entre profissionais reconhecidos na área e fotógrafos iniciantes, há a sessão de Leitura de Portfólios, um momento em que fotógrafos apresentam seu trabalho e recebem uma “devolución”, uma crítica sobre os diversos aspectos da produção que é apresentada.
             Nesta sessão, o principal trabalho apresentado foi o intitulado Mais além do fim do mar, um ensaio poético-documental sobre os rituais mágico-religiosos de celebração a Iemanjá, que acontecem no dia 2 de fevereiro na Praia do Cassino (Rio Grande/RS), extremo-sul do Brasil.

Ensaio Mais além do fim do mar, de Beatriz Rodrigues


Ensaio Mais além do fim do mar, de Beatriz Rodrigues

             Com a experiência de escuta dos diversos profissionais, fica mais claro que em fotografia não se trata de “ter os melhores equipamentos” ou fazer fotos “bonitas”. Também um portfólio não é a reunião das suas melhores fotos, mas a definição de um trabalho que tenha uma unidade, e que seja consistente visualmente. Esta unidade não é apenas temática: refere-se, especialmente, ao desenvolvimento de uma poética, um olhar singular sobre a temática a que se pretende desenvolver.
             Mais do que tudo, a experiência em uma leitura de portfólio é um exercício de se apresentar para o mercado de produção em fotografia,  e, especialmente, estar disposto (e aberto) a ouvir. Isso não significa que seu trabalho será uma unanimidade entre os revisores, mas que estes profissionais farão  apontamentos valiosos para o amadurecimento da proposta que se deseja apresentar, seja optando por uma mostra ou pela edição de um fotolivro, ou mesmo ambos.
            O olhar do revisor traz o conhecimento apurado sobre o processo de edição, algo tão difícil para todo fotógrafo que deseja apresentar uma proposta autoral, mas o momento fundamental para a formação de um “corpo”, ou, simplesmente, de uma obra. É importante perceber que, na apresentação de um trabalho, as escolhas não podem ser feitas ao acaso: acima de tudo é necessário decisão, obtendo controle sobre todo o processo que resultará em uma obra.
             Ou seja, apresentar um trabalho em fotografia não é apenas ter boas noções de composição e fazer boas fotos. É ter também o domínio deste processo de edição do trabalho, propondo uma unidade não apenas temática, mas estética, e propondo uma sequência de imagens que forme uma narrativa capaz de contar visualmente uma história. Isto me lembra Cartier-Bresson, quando fala que ao fotografar criamos em imagem algo que não conseguimos transmitir em palavras. A formação de uma sequência visual, em especial para propostas de fotografia documental (não confundir com fotojornalismo!), é, pois, o elemento fundante, o que confere força narrativa ao trabalho.
             Entretanto, em vários momentos as dúvidas tendem a aumentar, justamente porque o olhar dos revisores também denota uma postura singular. Muitas vezes o entendimento que um revisor tem sobre um trabalho pode se opor a de seus colegas, o que permite ao fotógrafo obter diferentes olhares (e por consequência diferentes possibilidades de encaminhamento) para o seu trabalho. Este momento de dúvidas é especial porque nos faz olhar para a nossa produção de outras formas, justamente porque estamos tão imersos no processo, e não conseguimos ter este distanciamento, também sempre necessário.
               Outra experiência fantástica de se vivenciar um festival é a possibilidade de estar em relação com a obra de fotógrafos do mundo inteiro. Entre os muitos em exposição em diversas galerias e centros culturais da cidade, destaco, em especial, a obra Nos jardins do Éden, do brasileiro Christian Cravo. Neste ensaio, o fotógrafo apresenta imagens sobre os rituais mágico-religiosos do Voodoo no Haiti. Uma intensa aula de tratamento de composição e luz, ambiência dramática e, a mais do que nunca tão necessária... sensibilidade!


Obra do ensaio Nos Jardins do Éden, de Christian Cravo


Obra do ensaio Nos Jardins do Éden, de Christian Cravo

              Para mais informações sobre o festival, há uma ótima edição do jornal cultural BUE, que também está disponível online



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